quarta-feira, janeiro 24, 2007

Reflexões Teatrais 10



"E agora recordem com firmeza o que lhes vou dizer: o teatro, pela publicidade e pelo seu lado espectacular, atrai muita gente que quer apenas tirar proveito da beleza própria ou fazer carreira. Valem-se da ignorância do público, do seu gosto adulterado, do favoritismo, das intrigas, dos falsos êxitos e de muitos outros meios que não tem relação alguma com a arte criadora. Esses exploradores são os inimigos mais mortíferos da arte. Temos que usar contra eles as medidas mais severas e se for impossível reformá-los será necessário afastá-los do palco."

Constantin Stanislavski
(1863-1938)
"A preparação do actor"

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Teatro Medieval: uma imagem

História: dos Vestígios de Paganismo ao Drama Litúrgico e aos Mistérios




• Danças directamente derivadas dos antigos ritmos agrários foram, durante muito tempo, executadas nas festas religiosas, continuando-se a saltar a fogueira, pelo S. João, como símbolo de exaltação e purificação. Ou seja, a Igreja preocupava-se com o fogo infernal, mas também não esquecia a vida.

A tradição literária dos gregos e romanos praticamente desaparece nestes séculos. São raros os dramas e os vestígios de obras dramáticas.

• Nos dias festivos, as escolas canónicas e monásticas passaram a abrir-se de par em par ao povo das redondezas. Os primeiros «dramas litúrgicos» foram assim representados no claustro, no adro ou sob o pórtico da «casa de Deus», cantados em Latim. Isso era ainda, de algum modo, o prolongamento dos ofícios religiosos; todavia, graças ao auxílio e animação de gente nova, já podia ser considerado um começo de teatro. Alguns motivos religiosos passaram a ser tratados com maior liberdade, devido ao seu alto valor dramático.

• Os acessórios mencionados em alguns dos mais antigos destes textos provam-nos quanto o realismo inspirava já toda uma encenação.

• Simplesmente, aconteceu que semelhante preocupação de realismo abriu a porta ao cómico, isto é, ao profano. À vista da cruz, da coroa de espinhos, dos pregos, o coração dos fiéis apertava-se, mas quando Moisés surgia com os seus chifres e a sua longa barba, quando Isabel aparecia grávida, a assistência não podia dominar o riso. Nestas condições, não tardou que o diabo cómico arrastasse consigo o drama para fora da Igreja.

• E assim, pouco a pouco, conquistado pelo profano, o Teatro se foi desligando da liturgia. Pelo século X, uma nova forma de teatro começou a aparecer.

• Mais tarde estas cenas tornaram-se independentes das missas e transformaram-se em peças de teatro autónomas e isoladas, dando origem a uma etapa riquíssima do teatro universal, o teatro religioso da Idade Média, cujos registos são abundantes, pois muitos textos foram conservados e copiados pelos frades, escritos que, várias vezes, não se limitam à componente dramatúrgica, contendo neles música escrita, instruções cénicas, desenhos de cenários ou trajes e até esquemas dos dispositivos mecânicos e dos efeitos cénicos.



• Assim, muitos temas dramáticos, baseados na Bíblia, começaram a fazer a sua aparição. As últimas formas de teatro religioso medieval conhecidas são as peças designadas por Mistérios (ou Moralidadades), em que o protagonista representava a Humanidade, contracenando com outros personagens igualmente simbólicos, como os Sete Pecados Capitais, a Sabedoria, a Caridade, a Morte, a Misericórdia ou a Paz.

• As peças, representadas nas praças, ao ar livre, tinham uma constituição bastante épica, e podiam narrar a vida de um Santo, como nos Milagres, ou fazer o relato de toda a história da Humanidade, do Paraíso ao Juízo Final, como nos Mistérios. Podiam durar vários dias e não existia o menor pudor em se misturar os estilos devoto e licencioso, o grotesco e o sublime.

• Os dois tipos de palco mais comuns eram, por um lado, os carros que se sucediam, parando um depois do outro para a representação das diferentes partes do espectáculo, e por outro, o longo palco, por onde passavam os personagens do drama apresentado.

• Este teatro contava também com maquinarias que permitiam tanto o deslocamento aéreo de anjos, como o surgimento de demónios, saindo de alçapões.

• Não se tratava de representar, realisticamente, as personagens, vivenciando os conflitos. O desempenho é esquemático e indicativo. Seria considerado pecaminoso que o actor que representa a figura de Jesus começasse a se identificar com o personagem. Ele deve ter uma certa descrição no seu papel.

• Por outro lado, os diabos, nos mistérios, saem do palco durante a representação e têm licença de percorrer as aldeias e a cidade nos dias anteriores ao espectáculo. Estão fora da ordem habitual e gozam de impunidade. Como eram pessoas pobres que os representavam, elas aproveitavam a ocasião para violarem a propriedade e para se fartarem de alimentos

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História: o Teatro Medieval I



Introdução

Quinze séculos de arte, no Ocidente, são marcados com o sinal cristão. E durante os dez primeiros séculos, foi a Igreja que alimentou o sentimento de uma pátria espiritual numa Europa confusa e movediça. Foi ela que organizou a actividade económica, favorecendo a emancipação das comunas e a ascensão da burguesia e, principalmente, foi ela que tomou a seu cargo a educação do povo.

O Teatro, como obra colectiva que é, passou a criar dentro de cada cidade uma espécie de emulação, entre os diversos ofícios, que se entendeu depois de umas cidades às outras. E a prosperidade das comunas, gozando de certas liberdades que lhes eram próprias, assegurou a fortuna ao Teatro.

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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Shakespeare: para saber mais




Um site com informação completa sobre o grande dramaturgo inglês, além de uma extensa base de dados, sempre em inglês. Eis o endereço:


http://www.shakespeare.about.com

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Shakespeare: belas citações

Algumas das mais belas frases:



"É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos".

"Sinto a fúria de suas palavras, mas não entendo nada do que você diz."

"A mulher que não sabe pôr a culpa no marido por suas próprias faltas, não deve amamentar o filho, na certeza de criar um palerma."

"Algumas quedas servem para que nos levantemos mais felizes."

"Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo/ Meu dia é noite quando estás ausente/ E à noite vejo o sol se estás presente."

"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio."

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos."

(para continuar...)

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Grandes Nomes do Teatro Universal 05



William Shakespeare
(1564 - 1616)

Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos. Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até os dias de hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo teatro, televisão, cinema e literatura.




Nasceu em 23 de abril de 1554, na pequena cidade inglesa de Stratford-Avon. Nesta região começa seus estudos e já demonstra grande interesse pela literatura e pela escrita. Com 18 anos de idade casou-se com Anne Hathaway e, com ela, teve três filhos. No ano de 1591 foi morar na cidade de Londres, em busca de oportunidades na área cultural. Começa escrever sua primeira peça, Comédia dos Erros, no ano de 1590 e termina quatro anos depois. Nesta época escreveu aproximadamente 150 sonetos.

Embora seus sonetos sejam até hoje considerados os mais lindos de todos os tempos, foi na dramaturgia que ganhou destaque. No ano de 1594, entrou para a Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em Londres. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elisabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância. Escreveu tragédias, dramas históricos e comédias que marcam até os dias de hoje o cenário teatral.

Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor.

No ano de 1610, retornou para Stratford, sua cidade natal, local onde escreveu sua última peça, A Tempestade, terminada somente em 1613. Em 23 de abril de 1616 faleceu o maior dramaturgo de todos os tempos, de causa ainda não identificada pelos historiadores.



Principais obras:

- Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Comédia dos Erros, Os dois fidalgos de Verona, Muito barulho por coisa nenhuma, Noite de reis, Medida por medida, Conto do Inverno, Cimbelino, Megera Domada e A Tempestade.

- Tragédias: Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, Antônio e Cleópatra, Coriolano, Timon de Atenas, O Rei Lear, Otelo e Hamlet.

- Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Sobre os 4 elementos 01



Se as nossas mentes, todas em conjunto, não tivessem tocado o etéreo individual de cada um com as nossas palavras e se conjugado na forma das nossas palavras momento; porque as palavras são um momento, vibrações que penetram ao íntimo do nosso ser e revelam-se-nos como semente que cresce na terra que se mistura sob os nossos pés, terra essa que nos sentiu nascer e que sustenta a nossa existência, pois dela viemos e a ela retornaremos como parte desse todo infinito onde firmamos os nossos alicerces com o suor do nosso corpo.

Assim, molhados nascemos e tristes entramos neste mundo sem sabermos que havia vida além útero e o que nos esperava. Somos marcados com a eterna marca de sermos e de mantermos a labareda que é a nossa vida e de fazermos algo que marque a nossa presença.

Paulo Santos
Aluno do 10º Curso de Teatro

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Reflexões Teatrais 09



«A arte vinga a vida. Na criação artística o homem se torna-se Deus»


Luigi Pirandello (1867-1936)
«Seis Personagens à Procura de um Autor»


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Sondagem 01: Ar o mais votado



Sondagem sobre o Atelier dos 4 Elementos

Eis o resultado da primeira sondagem do 12º Curso de Teatro:

1º: Ar - 40%



2º: Terra - 30%



3º: Fogo - 20%



4º: Água - 10%



Lamenta-se a baixa participação, com apenas 10 votantes. Esperemos que na próxima sondagem o nivel aumente.

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

Vem aí grande noite!



PLAY BACK 2007


Apresentação dos alunos do 12º Curso de Teatro do CCP-ICA

5ª feira - dia 09 de Janeiro de 2007 / 19:00 horas


Todos os antigos alunos do Curso estão convidados. Para os debutantes, apenas duas palavras:

Muita merda!

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terça-feira, janeiro 09, 2007

Proposta de Logotipo


O Paulo Santos, aluno do 10º Curso de Teatro do CCP - ICA propõem este trabalho para logotipo do 12º Curso. O que acham? Quem quiser comentar pode e deve fazê-lo aqui mesmo. É só «clicar» em comentários, e escrever a sua opinião.


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Curiosidade: O Jogo da Improvisação

Agora que temos estado a improvisar, e quando começam os alunos a sentir a importância que este exercício tem no trabalho de um actor/actriz de teatro, trazemos aqui uma curiosidade que hoje em dia, é bem mais do que isso, sendo mesmo um fenómeno teatral altamente fomentado em muitos países do mundo.

Imaginem uma pista de hóquei sobre o gelo, sim gelo, de seis por seis metros, rodeada de espectadores.




Imaginem os espectadores munidos de um cartão de votação bicolor e um regulamento oficial do jogo.



Imaginem um maestro de cerimónias apresentando a cena e um arbitro com os seus ajudantes controlando e fazendo com que o jogo se desenrole segundo as regras internacionais.

Imaginem duas equipas de actores jogadores, vestidos com roupas desportivas, enfrentando-se através de improvisações teatrais, as quais só podem ser levadas a cabo através de uma mútua cooperação entre elementos das duas equipas adversárias.



Imaginem uma dezena de histórias humorísticas, humanas, inverossímeis, fantásticas, poéticas, que são criadas diante dos vossos olhos e que só poderão ser vistas uma, e uma só vez.


O Jogo da Improvisação foi criado por Robert Gravel e Yvon Leduc e baseia a sua técnica nas investigações do maestro inglês Keith Johnstone (na foto). Partindo de várias experiências com a improvisação teatral, entre o grupo de actores do Teatro Experimental de Montreal, surge a ideia de uma peça teatral que, como ponto de partida, fosse única e irrepetível , em cada representação. Criou-se assim, em 1977, um espectáculo desportivo/teatral baseado no Hoquei sobre o gelo que, com regras apropriadas e dentro de um local adequado, fizesse surgir um estado de competição: nasce assim o Jogo da Improvisção (Match de Improvisación), transformando-se num sucesso imediato. Logo o jogo conquista os países da Europa e da América do Sul, transformando-se num êxito mundial!

Para saber mais:

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Reflexões Teatrais 08



«A nossa festa acabou. Os nossos actores,
Que eu avisei não serem mais que espíritos,
Derreteram no ar, no puro ar:
E como a trama vã desta visão,
As torres e os palácios encantados,
Templos solenes, como o globo inteiro,
Sim, tudo o que ele envolve, vai desaparecer
Sem deixar rasto. Nós somos o estofo
De que se fazem sonhos, e esta vida
É encerrada no sono.»

William Shakespeare (1564 - 1614)

Dramaturgo
(A Tempestade)

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Grécia: a importância da Comédia



Para se entender o fenómeno político e artístico que foi o surgimento da comédia grega, é necessário primeiramente estudar o processo histórico que originou a Grande Atenas, a Atenas Clássica, com a sua democracia, a sua filosofia e as suas artes, que até o presente, dois mil e quinhentos anos depois, ainda influencia e assombra o mundo ocidental.

Acompanhar o desenvolvimento daquela sociedade é fundamental, principalmente devido à origem acentuadamente política que a comédia assumiu em Atenas.

Uma dificuldade em estudar esse fenómeno reside primeiramente no facto de sóv terem chegado ao século XX o texto integral de doze peças. Onze destas pertencem a um só autor, Aristófanes.

Aristófanes pertenceu ao período mais antigo da comédia e que coincidiu com o apogeu da sociedade ática. Este período, classificado de Comédia Antiga, representou a fase mais política deste género de teatro em Atenas. Foi quando a liberdade de expressão atingiu um padrão jamais igualado, mesmo em comparação com o período contemporâneo. Ressalte-se que o mesmo era permitido somente aos homens livres: nem mulheres e, obviamente, escravos, tinham esse direito. A décima segunda peça tem como autor Menandro, e já pertence à fase decadente da polis.

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domingo, janeiro 07, 2007

Reflexões Teatrais 07



"Como criador, continuo a assumir-me como um militante do quotidiano; continuo a acreditar que uma das funções do teatro é tentar ajudar a destruir os destruidores, sem nunca esquecer o grande prazer, a grande alegria, a festa onde o mistério do amor, da paixão e da morte se revelam e se celebram."


João Mota
Encenador e Professor de Teatro

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Autores do teatro clássico Grego

Dos autores de que se possuem peças inteiras, Ésquilo trata das relações entre os homens, os deuses e o Universo. Sófocles (Édipo Rei) e Eurípides (Medeia) retractam o conflito das paixões humanas. Do final do século IV a.C. até o início do século III a.C., destaca-se a «comédia antiga» de Aristófanes (Lisistrata), que satiriza as tradições e a política atenienses.



Ésquilo (525 a.C. ? – 456 a.C.?)

Nasce numa família nobre ateniense e luta contra os persas. Segundo Aristóteles, é o criador da Tragédia Grega. Escreve mais de noventa tragédias, das quais sete são conhecidas integralmente na actualidade: As Suplicantes; Os Persas; Os Sete Contra Tebas; Prometeu Acorrentado e a trilogia Orestia.



Sófocles (495 a.C. ? – 406 a.C.)

Vive durante o apogeu da cultura grega. Escreve cerca de 120 peças, das quais sete são conservadas até hoje, entre elas Antígona, Electra e Édipo Rei. Nesta última, Édipo mata o pai e casa-se com a própria mãe, cumprindo uma profecia. Inspirado neste história, Sigmund Freud formula o complexo de Édipo.



Eurípides (484 a.C. ? – 406 a.C.)

É contemporâneo de Sófocles e pouco se sabe sobre a sua vida. As suas tragédias introduzem o prólogo explicativo e a divisão em cenas e episódios. É considerado o mais trágico dos grandes autores gregos. Na sua obra destacam-se Medeia, As Troianas, Electra, Orestes e As Bacantes.




Aristófanes (450 a.C. ? – 388 a.C.?)

Nasce em Atenas, Grécia. A sua vida é pouco conhecida, mas pelo que escreve se deduz que teve uma boa educação. Sobrevivem, integralmente, onze de cerca de quarenta peças. Violentamente satírico, crítica as inovações sociais e políticas e os deuses em diálogos inteligentes. Em Lisistrata, as mulheres fazem greve de sexo para forçar os atenienses e espartanos a estabelecerem a paz.

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sexta-feira, janeiro 05, 2007

Grandes Nomes do Teatro Universal 04



Samuel Beckett
(1906 - 1989)

Dramaturgo e escritor irlandês. Vencedor do Prémio Nobel de Literatura em 1969, utiliza em sua obra, traduzida em mais de trinta línguas, uma riqueza metafórica imensa, privilegiando uma visão pessismista acerca do fenômeno humano. É considerado um dos principais autores do denominado teatro do absurdo. Autor das peças «À Espera de Godot» e «Dias Felizes».





"Quanto mais longe ele vai mais bem me faz. Não quero filosofias, panfletos, dogmas, credos, saídas, verdades, respostas, nada a preço de saldo. Ele é o escritor mais corajoso e implacável que aí anda e quanto mais me esfrega o nariz na merda mais reconhecido lhe fico. Não se põe a gozar com a minha cara, não está a levar-me à certa, não me vem com piscadelas de olho, não me oferece um remédio nem um caminho nem uma revelação nem um balde cheio de migalhas, não me está a vender nada que não queira comprar, esta-se borrifando para se eu compro ou não, não tem a mão sobre o coração. Bom, vou comprar-lhe a mercadoria toda, de fio a pavio, porque ele espreita debaixo de cada pedra e não deixa nenhum verme sozinho. Faz nascer um corpo de beleza. A sua obra é bela."

Harold Pinter, 1954

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Relfexões Teatrais 06





«O teatro que não está dentro de nada, mas serve-se de todas as linguagens: gesto, sons, palavras, fogo, gritos, encontra-se exactamente no ponto em que o espírito tem necessidade de uma linguagem para produzir as suas manifestações.»

Antonin Artaud
(1896-1948)
"O teatro e seu duplo"

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quarta-feira, janeiro 03, 2007

História: as Grandes Dionísias



A preparação das Grandes Dionísias ficava sob a responsabilidade de um funcionário do governo que recrutava os coregos – cidadãos ricos que patrocinavam os coros – e com isso garantia a produção do espectáculo. A coregia era um dos serviços públicos impostos pelo Estado ateniense aos cidadãos ricos. Com financiamento garantido, tanto para os ensaios como para as representações teatrais, que se realizavam obrigatoriamente três vezes ao ano, o corego recrutava actores, profissionalizava-os, seleccionava os poetas competidores, encarregava-se da parte organizacional do espectáculo, garantia o acesso de todos os cidadãos aos espectáculos, com direito a uma ajuda de custo para o pagamento dos bilhetes e das refeições nos dias de festival, para os mais pobres.

Os bilhetes de entrada para os festivais


A especialização das actividades teatrais atinge tal nível na Atenas clássica que o Estado estabelece uma legislação sobre o fazer teatral, estipulando critérios de selecção dos actores para os principais papéis e seus substitutos, distribuição de personagens e recrutamento dos coreutas – integrantes do coro que contracenavam com os actores.

No final dos concursos dramáticos realizava-se um julgamento, de onde resultava a classificação final dos concorrentes. Eram três categorias premiadas:

A. Poetas
B. Coregos
C. Protagonistas


Essa classificação era votada por um júri, que dava o seu veredicto sob a forma de voto secreto.

As representações em Atenas começavam pela manhã. E assistia-se ao espectáculo com uma coroa na cabeça, como nas cerimónias religiosas. As mulheres atenienses, embora não pudessem participar da cena, podiam assistir como espectadoras, pelo menos nas tragédias. Quanto à comédia, devido a certas liberdades inerentes ao género, não era frequentada pelas atenienses mais ‘sérias’...

Em Atenas, o comércio era suspenso durante os festivais dramáticos. Os tribunais fechavam e os presos eram soltos da cadeia. O preço da entrada era dispensado para quem não pudesse pagar e até as mulheres, que não podiam participar de quase todos os acontecimentos públicos, eram bem recebidas no teatro!

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História: os festivais de teatro



As representações dramáticas em Atenas realizavam-se três vezes por ano, por ocasião das festas dionisíacas:

1. Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias: eram celebradas na Primavera (finais de Março) e frequentadas por toda a população grega, além de embaixadores estrangeiros. A festa durava seis dias. O primeiro era consagrado a uma solene procissão, em que toda a cidade tomava parte.

Nesta procissão levava-se a estátua do Deus Dioniso que era finalmente colocada na orquestra do Teatro. Nos dois dias seguintes celebravam-se os concursos de coros. Os concursos dramáticos ocupavam os três últimos dias. Eram escolhidos três poetas trágicos, que representavam, cada um deles, a sua obra inteira, num mesmo dia. Ou seja, três tragédias e um drama satírico (tetralogia).

2. Leneanas ou Festival Leneo: tinham um carácter mais local. Celebravam-se no Inverno, fins de Janeiro e duravam três a quatro dias. Uma procissão, de cunho extremamente licencioso e um duplo concurso de comédias e tragédias, eram as atracções da festa. Tinha esse nome devido ao mês grego (Janeiro/Fevereiro), tradicionalmente reservado para a celebração do casamento, e era dedicado principalmente à comédia.

3. Dionísias Rurais: celebravam-se apenas nos povoados nos fins de Dezembro e eram as mais antigas festas de Dioniso, dependendo o brilho de tais festejos dos recursos próprios dos povoados.

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Das procissões aos palcos das tragédias

A Tragédia é uma forma dramática surgida na Grécia, no século V a.C., originada de um canto em louvor a Dioniso.

Etimologia da palavra Tragédia: tragos (bode) + oide (canto) = canto do bode, animal que relembra um dos ‘disfarces’ usados por Dioniso.

O desenvolvimento do pensamento grego apresenta dois momentos fundamentais:

1. Século XVI a.C. até ao século IX a.C., quando a sociedade e o pensamento apoiavam-se no mito para encontrar explicações para os fenómenos na natureza e para a vida em geral;



2. A partir do século VIII a.C. quando surge a polis (a cidade), o pensamento filosófico e a valorização do racional, que vão recusar a visão do mundo baseada no pensamento mítico.



O teatro surge como novidade artística, na Grécia do século V a.C., trazendo normas estéticas, temas e convenções próprias. Pode-se dizer que o Teatro explica o contexto histórico do século V a.C., da mesma forma que o contexto daquele momento se apreende melhor através das peças então produzidas, demonstrando a profunda inter-relação entre a sociedade e o teatro.

Nota: nas duas figuras podemos ver as máscaras típicas da Tragédia grega

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terça-feira, janeiro 02, 2007

Reflexões Teatrais 05



«o Teatro é uma forma de comunicação entre os homens: as formas teatrais não se desenvolvem de maneira autónoma, antes respondem sempre a necessidades sociais bem determinadas e a momentos precisos. O espectáculo faz-se para os espectadores e não o espectador para o espetáculo, o espectador muda, logo o espectáculo também terá de mudar.»

Augusto Boal
Encenador

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Glossário Teatral: letra C



CABO DE VARANDA – Aquele que coordena os movimentos de varanda. Actualmente essa coordenação é feita a partir da régie.

CACHET – Palavra francesa que significa literalmente “salário de artista”.

CAIMENTO – Ângulo de inclinação do chão do palco ou da plateia.

CAIXA DO PALCO – Parte do teatro, para trás da boca de cena, compreendendo a teia, o urdimento, as varandas, o palco e o sub-palco.

CAIXA DO PONTO – Espécie de caixa ou cúpula, no centro do chão do proscénio onde o ponto exerce a sua função. Também tem o nome de cúpula do ponto. Nos palcos onde a caixa do ponto não existe, o ponto trabalha entre bastidores.

CAMARIM – Sala que serve de vestiário e onde se preparam e maquilham os actores para irem para cena. Poderá ser improvisado um camarim em bastidores para mudanças rápidas que é chamado camarim de palco.

CANEVAS - Resumo ou “cenário” de uma peça para as improvisações de actores, em particular os da Comedia dell’arte.

CARÁCTER - Traço próprio a uma pessoa que a permite distinguir dos outros. Conjunto de traços físicos, psicológicos e morais de um personagem. Pessoa ou personagem considerada na sua individualidade, originalidade, nas suas qualidades morais. Os caracteres constituem, segundo Ariosto, um dos seis elementos da tragédia, com o canto, elocução(estilo do discurso), a fábula, o pensamento e o espectáculo.

CARDA – Tacha.

CARNAVALISAÇÃO - Transformação espectacular de um evento por um reverso total de situações habituais, do sério para o cómico.

CASTIGO – Erguer um pano ou um telão não só pela vara por onde está suspenso, mas também pela do fundo, com seis cordas, obrigando-o a dobrar ao meio.

CATASTROFE - Da tragédia grega, última das quatro partes da obra, onde o herói recebe a sua punição, geralmente funesta.

CATHARSIS - Efeito de purgação das paixões produzido sobre os espectadores numa representação dramática não distanciada.

CANTO - Do teatro grego, termo para designar o texto poético de coro. No teatro de Brecht aplicava-se também o canto embora com intenção parcialmente diferente.

CENA – São múltiplos os significados desta palavra. Uma é o palco. Estar em cena é estar a representar ou a ensaiar dentro da área de representação. Cena pintada ou construída, é o cenário. Dar e tomar cena é deixar lugar ou ocupar o espaço livre do palco durante a representação. Uma cena é o momento de acção em que “estão em cena” os mesmos actores.

CENÁRIO – Conjunto de elementos que decoram e delimitam o espaço cénico.

CENOGRAFIA – Arte da organização do espaço teatral. Conjunto de elementos (tela pintadas, praticáveis, mobiliário...) que determinam este espaço.

CENÓGRAFO – Aquele que cria, projecta e supervisiona a realização e montagem de todos os espaços necessários à cena, incluindo a programação cronológica dos cenários; determina os materiais necessários; dirige a preparação, a montagem e a desmontagem das diversas unidades do cenário.

CENTRO – Diz-se da parte do palco equidistante das laterais.

CHASSIS – Armação onde se encaixam os filtros de cor dos projectores.

CICLORAMA – Fundo fixo em forma de “U” aberto e que é colocado ao fundo do palco, geralmente de cor neutra (branco, azul-celeste ou cinzento claro).

COMÉDIA - Acção cénica que provoca o riso pela situação das personagens ou pela utilização de trejeitos e dos caracteres, cujo desfecho é feliz.

COMÉDIA MUSICAL- Comédia ou intriga, pouco restrita, que serve de pretexto a uma série de canções e de danças. Um bom exemplo é a comédia musical “Hair” composta em 1967.

COMÉDIA DELL’ARTE - Género de comédia na qual, o “scenário” ou “canevas” servia apenas de regra para a improvisação dos actores. Este género existiu entre os séculos XVI a XVIII ,iniciou-se em Veneza ,em Itália e estendeu-se por toda a Europa.

COMPARSA – Diz-se do actor que desempenha papéis de pouca importância, geralmente sem falas. Actualmente usa-se mais o termo figurante.

COMPRIDA – A corda que suspende da teia cada vara, pela sua ponta mais distante da varanda. A corda que suspende da teia cada vara, pela sua parte mais próxima da varanda chama-se curta.

CONOTAÇÃO - Conjunto de valores subjectivos variáveis de uma palavra.

CONSOLA - Aparelho de controle das luzes e do som

CONTEXTO - Conjunto de circunstâncias que rodeiam a emissão do texto linguístico e/ ou da sua representação, circunstâncias que facilitam ou permitem a sua compreensão.

CONTRAPONTO - Série de linhas temáticas ou de intrigas paralelas que se correspondem num princípio de contraste.

CONTRA-REGRA – Aquele que executa as tarefas de colocação dos objectos de cena e decoração; zela pela sua manutenção, solicitando às equipas técnicas as reparações necessárias; dá os sinais para início e continuação do espectáculo; é encarregado de dar sinais às diversas equipas técnicas para a prevenção e execução de efeitos (luz, som, mecânica de cena, manobras de varanda, entre outros). Também é conhecido pelo termo francês régisseur.

CONVENÇÃO TEATRAL - Conjunto de pressupostos ideológicos e estéticos, explícitos ou não, que permitem ao publico receber correctamente a peça; por exemplo: a Quarta parede do palco, os apartes dos actores , o uso de um coro, o uso de objectos com outras funções; o próprio palco como espaço de ficção.

COREOGRAFIA - termo, vindo do teatro grego que designava a arte de dirigir os coros, utilizada depois no começo do século XVIII , para designar a arte de compor as danças e de regular as figuras e os passos. Hoje em dia utiliza-se este termo para designar a encenação do teatro gestual e mesmo do ballet.

CORIFEU - Chefe do coro, no teatro grego.

CORO - Grupo ou grupos alternados- encarregados de intervir colectivamente, por meio do canto, da dança e o recitativo, dentro do “quadro” de um ritual ou de um espectáculo. No teatro grego, a intervenção dos coreutas, dirigido por um corifeu, dá-se o nome de “Choreia”.

CORTINA DE FERRO – Cortina de metal que separa o palco da plateia em caso de incêndio. Também se chama pano de ferro.

COSER – Ensarilhar.

COXIAS – Partes do palco, aos lados e fundo de cena, ocultas à visão do público.

CRUZAR – Mudança de posição que obriga a passar inferior ou superior a outra figura.

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