quarta-feira, janeiro 24, 2007

História: dos Vestígios de Paganismo ao Drama Litúrgico e aos Mistérios




• Danças directamente derivadas dos antigos ritmos agrários foram, durante muito tempo, executadas nas festas religiosas, continuando-se a saltar a fogueira, pelo S. João, como símbolo de exaltação e purificação. Ou seja, a Igreja preocupava-se com o fogo infernal, mas também não esquecia a vida.

A tradição literária dos gregos e romanos praticamente desaparece nestes séculos. São raros os dramas e os vestígios de obras dramáticas.

• Nos dias festivos, as escolas canónicas e monásticas passaram a abrir-se de par em par ao povo das redondezas. Os primeiros «dramas litúrgicos» foram assim representados no claustro, no adro ou sob o pórtico da «casa de Deus», cantados em Latim. Isso era ainda, de algum modo, o prolongamento dos ofícios religiosos; todavia, graças ao auxílio e animação de gente nova, já podia ser considerado um começo de teatro. Alguns motivos religiosos passaram a ser tratados com maior liberdade, devido ao seu alto valor dramático.

• Os acessórios mencionados em alguns dos mais antigos destes textos provam-nos quanto o realismo inspirava já toda uma encenação.

• Simplesmente, aconteceu que semelhante preocupação de realismo abriu a porta ao cómico, isto é, ao profano. À vista da cruz, da coroa de espinhos, dos pregos, o coração dos fiéis apertava-se, mas quando Moisés surgia com os seus chifres e a sua longa barba, quando Isabel aparecia grávida, a assistência não podia dominar o riso. Nestas condições, não tardou que o diabo cómico arrastasse consigo o drama para fora da Igreja.

• E assim, pouco a pouco, conquistado pelo profano, o Teatro se foi desligando da liturgia. Pelo século X, uma nova forma de teatro começou a aparecer.

• Mais tarde estas cenas tornaram-se independentes das missas e transformaram-se em peças de teatro autónomas e isoladas, dando origem a uma etapa riquíssima do teatro universal, o teatro religioso da Idade Média, cujos registos são abundantes, pois muitos textos foram conservados e copiados pelos frades, escritos que, várias vezes, não se limitam à componente dramatúrgica, contendo neles música escrita, instruções cénicas, desenhos de cenários ou trajes e até esquemas dos dispositivos mecânicos e dos efeitos cénicos.



• Assim, muitos temas dramáticos, baseados na Bíblia, começaram a fazer a sua aparição. As últimas formas de teatro religioso medieval conhecidas são as peças designadas por Mistérios (ou Moralidadades), em que o protagonista representava a Humanidade, contracenando com outros personagens igualmente simbólicos, como os Sete Pecados Capitais, a Sabedoria, a Caridade, a Morte, a Misericórdia ou a Paz.

• As peças, representadas nas praças, ao ar livre, tinham uma constituição bastante épica, e podiam narrar a vida de um Santo, como nos Milagres, ou fazer o relato de toda a história da Humanidade, do Paraíso ao Juízo Final, como nos Mistérios. Podiam durar vários dias e não existia o menor pudor em se misturar os estilos devoto e licencioso, o grotesco e o sublime.

• Os dois tipos de palco mais comuns eram, por um lado, os carros que se sucediam, parando um depois do outro para a representação das diferentes partes do espectáculo, e por outro, o longo palco, por onde passavam os personagens do drama apresentado.

• Este teatro contava também com maquinarias que permitiam tanto o deslocamento aéreo de anjos, como o surgimento de demónios, saindo de alçapões.

• Não se tratava de representar, realisticamente, as personagens, vivenciando os conflitos. O desempenho é esquemático e indicativo. Seria considerado pecaminoso que o actor que representa a figura de Jesus começasse a se identificar com o personagem. Ele deve ter uma certa descrição no seu papel.

• Por outro lado, os diabos, nos mistérios, saem do palco durante a representação e têm licença de percorrer as aldeias e a cidade nos dias anteriores ao espectáculo. Estão fora da ordem habitual e gozam de impunidade. Como eram pessoas pobres que os representavam, elas aproveitavam a ocasião para violarem a propriedade e para se fartarem de alimentos

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