sexta-feira, abril 13, 2007

Curso de Teatro: eis a peça!



Já foi escolhida a peça a ser apresentada pelos alunos do XII Curso de Iniciação Teatral do Centro Cultural Português do Mindelo - IC.

Trata-se de uma adaptação do conto de Jorge Amado,
«O gato malhado e andorinha sinhá - uma história de amor».



Jorge Amado (1912-2001) é um dos mais conhecidos escritores brasileiros, mas em sua extensa obra, figuram poucos textos infantis. O mais importante deles é esta (improvável) história do amor entre um gato e uma andorinha, cujo final, a exemplo de Romeu e Julieta, não é dos mais felizes.

A equipa desta adaptação teatral será vasta e extravaza, em muito, a equipa de formadores do curso, havendo convites para diversos agentes teatrais darem a sua colaboração nesta montagem teatral. Assim, entre as colaborações previstas, temos:

Coordenação Geral e Direcção Artistica
João Branco

Coordenação Geral e Direcção Plástica
Elisabete Gonçalves

Dramaturgia
Airton Ramos

Música Original e Ambientes Sonoros
Neu Lopes

Desenho de Luz
Anselmo Fortes

Concepção de Máscaras
Elisabete Gonçalves

As datas também já estão definidas. A peça será apresentada nos dias 29, 30 de Junho e 01 de Julho, no Centro Cultural do Mindelo.

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Técnica Vocal: o reflexo respiratório

COMO RESPIRAR

O segredo é encontrar o que se chama o reflexo respiratório, que é pessoal e intransmissível, isto é, cada indivíduo tem o seu.



O exercício é realizado estando o actor sentado no chão, sobre um colchão ou na sua cama. Deve estar com as pernas estiradas e levemente afastadas, mantendo os olhos fechados.

De maneira delicada, unir os dedos de cada mão uns aos outros e depois colocá-los subtilmente sobre os ombros, sem exercer qualquer pressão. O actor deve permanecer por alguns instantes observando a soltura dos músculos das pernas e das costas e o aparecimento da alteração respiratória. Ele deve deixar o corpo bem à vontade, para que realize o movimento que desejar. A manifestação mais comum é a queda do tronco em direcção ao solo, daí a recomendação de realizar o exercício na cama ou num colchão.

Além do relaxamento muscular que o exercício provoca, o facto que mais interessa é a deflagração do reflexo respiratório, que ocorre da maneira ideal para o trabalho respiratório do actor. Assim que começamos a utilizar este exercício com os actores, a compreensão do acto respiratório tornou-se bem mais rápida, evitando-se discussões desnecessárias, pois a vivência economiza inúmeros argumentos, facto de que o paciente actor gosta muito, mesmo quando desprovido de qualquer fundamentação teórica. O actor costuma desperdiçar, um tempo precioso, que poderia estar sendo usado no fazer, no treinar, enfim, no aprimoramento da sua técnica vocal.

Para alegria nossa, a instalação do acto respiratório ficou bem tranquila, pois simplesmente pedimos ao actor que humilde e pacientemente observe a proposta orgânica e aprenda com o organismo a melhor maneira de respirar.

Tem-se observado que os actores costumam usar muito ar durante a representação teatral e estão sujeitos a uma «pressão vento» alta. Tal pressão, feita pela base pulmonar, quando sobrecarregada pelo excesso de ar, dificulta o controle da fala do actor, pois não é nada fácil lidar com a pressão vento dentro do tubo laríngeo e, via de regra, o actor acaba desenvolvendo toques bruscos com suas cordas vocais durante o acto da fala. Tentando inutilmente controlar tal pressão aérea, acaba contraindo toda a região do pescoço e, às vezes, também os ombros e a face, conseguindo apenas produzir sons desagradáveis provenientes de gargantas raspadas, o que na grande maioria das vezes conduz à rouquidão.

A proposta é no sentido de que o actor aprenda a trabalhar a sua fala com pouco ar, controlando assim a pressão aérea dentro de si, inspirando pouco ar, obedecendo aos parâmetros propostos pelo reflexo respiratório e subdividindo esse pouco ar pelas suas necessidades de fala.

O reflexo respiratório é pessoal, intransferível e único.

Fonte: «Estética da Voz», de Eudosia Acuña Quinteiro

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Técnica Vocal: aparelho respiratório




a) fossas nasais
b) laringe
c) traqueia
d) pulmões e brônquios

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Técnica Vocal: Respiração

A respiração é um dos elementos chave na busca das emoções. A regulação respiratória deve ser muito bem treinada para o estudo e levantamento da relação da respiração com as emoções. Em todas as emoções humanas, a respiração é um facto presente, activo e dando características específicas a cada manifestação emotiva.

A respiração pode ser dividida em dois momentos: a inspiração, ou a entrada de ar no organismo e a expiração, ou a expulsão do ar do organismo. A principal finalidade da respiração é a de levar oxigénio às células do corpo, ou seja, promover o metabolismo das células e remover o produto residual desse metabolismo. O ar deve ser renovado ininterruptamente nos pulmões, para que a troca de gases possa acontecer, renovando o sangue.

Para que a mecânica respiratória ocorra, observamos três factores:

a) A elasticidade pulmonar: encontramos os pulmões em constante estado de distensão, acontecendo a expiração pela elasticidade pulmonar;

b) O movimento costal: através dos músculos torácicos inspiradores, alarga-se a caixa torácica, promovendo-se uma pressão negativa em relação ao meio ambiente e induzindo-se o ar para dentro dos pulmões, como se fosse uma máquina de sugar instalada na base pulmonar.

c) O movimento do diafragma: este é o grande auxiliar da respiração. A sua cúpula desce durante o esforço da inspiração, tornando-se ele quase plano, deslocando um pouco a cavidade abdominal e, naturalmente, ampliando a cavidade torácica. É sobre essa ampliação da cavidade torácica que gostaríamos de orientar o pensamento dos actores.

Quando o corpo está em repouso, a inspiração é um movimento muscular activo e a expiração é passiva, controlada pela elasticidade pulmonar. Na fala estética ou no canto, a inspiração e a expiração tornam-se movimentos activos e de controle preciso. É importante não esquecer que o órgão respiratório do organismo está dividido em duas partes que se chamam pulmões, que trabalham em regime uno, solidário, obedecendo a um mecanismo próprio de expansão e recolhimento. Isto é feito dentro da caixa torácica. A melhor maneira de realizar o acto respiratório é permitir que o organismo o faça, em paz, sem interferências nocivas ou abusivas.

Fonte: «Estética da Voz», de Eudosia Acuña Quinteiro

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segunda-feira, abril 09, 2007

Bibliografia 06



Estética da Voz

Autor
Eudosia Acuña Quinteiro

Um encontro entre o teatro e a fonoaudiologia, objetivando um estudo sobre a criação teatral no que concerne à voz e à fala. Um trabalho que serve a todo profissional de voz, desde o processo respiratório até o aquecimento vocal.

Editora: Summus
Número de páginas: 119
Encadernação: Brochura
Edição: 1989

Nota: todos os livros indicados estão disponíveis para consulta na biblioteca teatral do Centro de Documentação e Investigação Teatral do Mindelo, situado no Mercado Municipal (Rua de Lisboa).

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Reflexões Teatrais 21



«O espectador que tem pressa é inimigo do teatro. Os remédios amargos nós os tomamos de um só gole, mas em troca saboreamos lentamente um prato bem preparado. É claro que não se deve abusar da paciência do espectador, nem tampouco deve-se satisfazer ao que tem pressa. Se o teatro não pode obrigar o espectador a esquecer que tem pressa, terá esse teatro o direito de existir?»

Meyerhold - Actor e encenador russo
(1874 - 1942)

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Críticos: os maus da fita?

Eis algumas frases de dramaturgos «vingando-se» de más críticas às suas peças. Será mesmo assim?

«O crítico é um homem que conhece o caminho, mas não sabe guiar.»
Kennneth Tynan (actor)

«Os críticos são como eunucos num harém. Estão lá toda a noite, vêem ser feito toda a noite, vêem como deveria ser feito toda a noite, mas são incapazes de fazê-lo.»
Brendan Bchan (dramaturgo irlandês)

Christopher Hampton

«Perguntar a um actor o que ele acha da crítica é como perguntar a um poste o que ele acha dos cachorros.»
Christopher Hampton (dramaturgo inglês)

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Som: Funcionalidade do subsistema sonoro

Funcionalidade do subsistema sonoro

Expressão oral – A palavra amplia, concretiza ou ancora o significado das imagens, dando-lhes universalidade, conceptualização e explicações lógicas. Na informação televisiva a palavra tem um grande peso: o texto do jornalista, os testemunhos dos protagonistas exprimem ideias, opiniões, declarações.

Música – A banda musical inter relaciona-se com as imagens para formar um novo significado. A música associa e conota a realidade visual a determinados sentimentos ou estados de alma segundo a expressividade da mesma.

Por exemplo, vejamos algumas funções exercidas pela música na televisão, o que será idêntico para o teatro:

•Identificação imediata de um programa;
•Dar relevo a um personagem;
•Estimular a recordação de eventos;
•Criar "atmosferas";
•Proporcionar elipses juntamente com outros meios expressivos (visuais, por exemplo);
•Relacionar-se com a expressão oral;
•Definir um ambiente;
•Criar um contraponto.

Funcionalidades de outros sons – Usualmente, os sons relacionam-se com as imagens fornecendo-lhes uma mais-valia, um valor acrescentado. Trata-se do valor sensorial, informativo, semântico, narrativo, estrutural ou expressivo do som que ouvimos numa cena e que nos conduz a projectá-lo na imagem.



Silêncio – O efeito-silêncio permite maximizar a concentração nas imagens. A "ausência" de som apercebida ganha significado relacionando-se com os contextos (visuais e sonoros) anteriores e com os que lhe sucedem.

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Som: Percepção Auditiva

É essencialmente através do sistema auditivo que o homem percebe o ambiente sonoro que o rodeia. A origem de um som é sempre a vibração de um objecto físico dentro da gama de frequências e amplitudes capaz de ser apreendida pelo ouvido humano. Esta vibração empurra outros corpos físicos que o rodeiam, gerando, por sua vez, outras vibrações. Quando estas vibrações chegam ao nosso ouvido, normalmente através do ar, percebemo-las como um som. Em suma, o fenómeno sonoro é a percepção das oscilações rítmicas, normalmente da pressão do ar, que foram estimuladas por outro objecto físico vibrante que actua como fonte de emissão.





Sistema expressivo sonoro

O sistema expressivo sonoro integra quatro variantes: expressão oral, música, sons e silêncio.

Subsistema da expressão oral – é um signo que une um conceito e uma imagem acústica. As relações que o signo mantém com a realidade são absolutamente convencionais. No entanto, interessa também destacar os fenómenos paralinguísticos que se produzem na realização dos actos de fala - entoação, inflexões, modulações de voz.

Subsistema da música – Integra uma diversidade de timbres próprios dos instrumentos (acústicos, electro-acústicos e electrónicos) e da voz humana. A música introduz uma subjectividade emotiva, evoca o não discursivo, o não figurativo.

Subsistema de sons – Integra os sons não icónicos (usualmente designados ruídos), pois não permitem identificar qual a fonte que os emite, e os sons icónicos, os quais produzem uma imagem acústica que remete para uma determinada realidade. Está integrado por signos auditivos dimanados dos objectos, animais e pessoas nos seus movimentos e acções.

Subsistema do silêncio – Entendemos por silêncio a sensação de ausência de som, um efeito perceptivo que se produz por um determinado tipo de formas sonoras. O efeito-silêncio é, por vezes, carregado de significação. Pode-se, inclusive distinguir três usos expressivos do silêncio:

1 - Uso sintáctico – Quando os efeitos-silêncio se utilizam para organizar e estruturar os conteúdos visuais, isto é, quando actuam simplesmente como instrumento de separação.

2 - Uso naturalista – Quando se utilizam como imitação restrita da realidade referencial. Os efeitos-silêncio expressam informações objectivas muito concretas sobre a acção narrada.

3 - Uso dramático – Utilização consciente do efeito-silêncio para expressar algum tipo de informação simbólica. Exemplo: morte, suspense, vazio.

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Som: Sistema Audio-visual



Introdução

Há muito que se afirma uma tendência que considera a visão e a audição como dois sentidos que entre si mantêm relações privilegiadas de complementaridade e de oposição. No Homem, a associação entre som e imagem é, desde muito cedo, estabelecida a partir do contacto com o meio exterior e «naturalizada» pela aprendizagem.

Na era dos multimédia, o estudo dos modos artificiais de organização de imagem e de som adquire primordial importância, mobilizando a atenção de diversificadas áreas científicas, artísticas (teatral, por exemplo) e profissionais.

Sistema Audiovisual

A palavra audiovisual "resulta da aglutinação dos termos" "audio" e "visual" e refere-se:

a) a tudo o que pertence ou é relativo ao uso simultâneo e/ou alternativo do visual e auditivo;
b) a tudo que tem características próprias para a captação e difusão mediante imagens e sons.

O sistema audiovisual é composto por todos os signos percebidos pela vista e pelo ouvido e pelas relações que entre eles se estabelecem.

Signos Audiovisuais – produzidos pela combinação de significantes percepcionados pelo ouvido e pela visão. As imagens e os sons constituem o significante.
Signos Visuais – produzidos por significantes captados pela visão: pictóricos, gráficos, imagens.
Signos Auditivos – produzidos por significantes apreendidos pelo ouvido.

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terça-feira, abril 03, 2007

Reflexões Teatrais 20



«Creio que não existem temas humorísticos e temas não-humorísticos. O humor, como o dramático, o trágico e o imaginário, é a colocação da realidade num clima determinado. O humor é um tipo de ponto de vista, de comunicação, de percepção das coisas e, sobretudo, é uma característica pessoal que se tem ou não se tem.»

Frederico Fellini - Realizador e Encenador
(1920 - 1993)

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Grandes Nomes do Teatro Universal 07



Antonin Artaud
(1896- 1948)

Escritor, poeta, actor e director francês. Pertenceu ao grupo surrealista de Breton. Escreveu «O Teatro e o seu Duplo», que influenciou profundamente o teatro moderno. Nele,combate o teatro narrativo e psicológico, e propõe a volta a um teatro de violência mítica e beleza mágica, que exponha os conflitos mais profundos do ser humano, não apenas com a palavra, mas também com a linguagem dos gestos e dos movimentos.



Como os teóricos Appia e Craig, Artaud visava um teatro de atmosfera e sugestão, dirigido mais aos sentidos do que à razão. Em 1953, fundou o Teatro da Crueldade, que acabou num fracasso total. A experiência gerou a ruína do autor, que passou a ter sucessivas crises de depressão e acabou internado num hospício.

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Glossário Teatral: letra F



FÁBULA - Conjunto de factos que constituem o elemento narrativo de uma obra. Um dos seis elementos da tragédia ,segundo Aristóteles, com os caracteres, o canto, a elocução, o pensamento e o espectáculo.

FALA – Enunciado com que uma personagem se dirige ou responde a outra. Também chamado réplica.

FARSA – Peça de teatro que visa sobretudo provocar a gargalhada do público, por meio de disparates e duplos sentidos, com personagens tipicamente caricaturais.

FATALIDADE – Força sobrenatural pela qual tudo o que acontece (sobretudo desagradável) é predestinado e determina todos os acontecimentos de uma maneira inevitável. A fatalidade é o motor da tragédia grega.

FICÇÃO – OForma do discurso que faz referencia a um universo conhecido. Mas através de pessoas e eventos imaginários.

FIGURA – O corpo do actor.

FIGURAÇÃO – O conjunto dos figurantes de um espectáculo; o trabalho realizado por eles em cena.

FIGURANTE – Actor ou actriz cuja participação num espectáculo consiste exclusivamente em fazer número, preenchendo cenas de conjunto.

FIGURINISTA – Aquele que cria e projecta os trajes (figurinos) e complementos usados em cena pelos actores e figurantes, indicando os materiais a serem usados na sua confecção, acompanha e supervisiona a sua execução.

FOCALIZAÇÃO – Acção de pôr em evidência, de fazer convergir num determinado ponto.

FORA DO TEXTO – Termo para designar o contexto e intertexto.

FOSSO DE ORQUESTRA - O espaço rebaixado entre a plateia e o palco, onde se instala a orquestra.

FUNDINHO – Engradado que tapa a abertura de uma porta ou janela.

FRESNELL- Estrutura Projector cujo poder de iluminar é aumentado por uma lente graduada.

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segunda-feira, abril 02, 2007

Nação Teatro: período colonial II

Principais características e acontecimentos teatrais em Cabo Verde, durante o período colonial:

1. O fenómeno teatral em Cabo Verde tem as suas raízes primárias fincadas em três locais de natureza bastante diversa: primeiro nos Seminários e nas Igrejas, depois nos clubes e grémios de elite formados um pouco por todo o país, e finalmente, nos clubes desportivos, mais populares e voltados para práticas sociais e desportivas recém introduzidas no arquipélago, principalmente pelos ingleses em S. Vicente;

2. Paralelamente, assistimos ao recrudescimento e sedimentação da Tabanca, na ilha de Santiago, naquele que é, muito provavelmente, o primeiro fenómeno consciente de teatralização genuinamente cabo-verdiano, e a sua estrutura deve muito à teoria teatral, com cenários bem definidos e, mais importante, um vasto leque de personagens, com regras de estratificação bastante complexas. Ainda na ilha da Brava identificamos festividades que são puras manifestações de teatro de rua;

3. Nos clubes de elite, formados nos últimos anos de vigência do regime monárquico português, três deles dedicaram-se em exclusivo às artes dramáticas, sendo que todos eles se encontravam na cidade da Praia;

4. Esses três clubes promoveram, entre outras actividades, a edificação de dois edifícios teatrais, construídos de raiz, num curto espaço de tempo e no mesmo quarteirão da cidade da Praia. O primeiro, o Teatro D. Maria Pia de Sabóia, inaugurado a 25 de Julho de 1863, deve justamente receber o honroso título de primeiro edifício teatral cabo-verdiano;

5. No entanto, foi o Teatro Africano, bela construção teatral arquitectada à imagem do Teatro Politeama de Lisboa, inaugurado no dia 1 de Janeiro de 1868, que deixou profundas marcas. Tem sido por isso considerado por alguns historiadores e curiosos, como o primeiro teatro a ser construído nas colónias portuguesas.

6. Seja como for, este teatro, que nos primeiros 30 anos foi gerido pela Sociedade Dramática do Teatro Africano, teve uma vida prolongada, tendo sido demolido nos anos 50 do século XX, para dar origem ao Cine-Teatro Municipal da Praia e perder toda a sua funcionalidade cénica;

7. Os espectáculos apresentados foram sofrendo mudanças, sendo que durante muitos anos podiam ser denominados como espectáculos de variedades, com pequenas peças teatrais, intermediadas por momentos musicais, poesia ou dança. Se bem que inspiradas na Revista à Portuguesa, cuja influência terá sido provocada, entre outras, graças à apresentação de peças pela tropa expedicionária portuguesa, estes espectáculos foram ao longo dos anos evoluindo e acabariam por dar origem a uma nova comédia urbana crioula;

8. Nesses espectáculos, primeiro organizados por elites locais cabo-verdianas, e depois por clubes muito mais populares, foram sendo introduzidos temáticas e adereços regionais, música tradicional, além do próprio crioulo, que pouco a pouco, foi conquistando o seu espaço nos palcos de Cabo Verde. Não será de todo descabido concluir que o entusiasmo com que o público cabo-verdiano recebe ainda hoje a comédia teatral tem as suas raízes neste processo evolutivo;

9. Clubes desportivos como o Amarante, Académica e Castilho, de S. Vicente, fo-ram fundamentais para a apropriação da revista portuguesa e a sua trans-formação num produto cultural próprio e idiossi-crático. Figuras populares como Artur Boxe, Ti Goy e Tcheta tiveram um importante papel na dinamização desse teatro popular. Não se pode deixar de referir o Cine-Teatro Éden Park, inaugurado em 1922, durante muitos anos considerado a mais importante sala de espectáculos de Cabo Verde;

10. A aquisição de uma certa consciência política, que foi aumentando à medida que a crise política se acentuava, deve ao teatro, principalmente o radiofónico, um importante contributo. Neste campo destacaram-se duas figuras incontornáveis: Sérgio Frusoni e João Cleofas Martins, ou Nhô Djunga, como era conhecido e tratado pelo seu povo.


Exemplo de um programa de espectáculo. Neste caso do clube Académica, peça de 1954

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Nação Teatro: período colonial



O quase permanente abandono a que Cabo Verde foi sendo votado pelo poder colonial ao longo da sua história, terá sido um dos maiores potenciadores para a progressiva moldagem e afirmação de uma identidade cultural própria. Também Germano Almeida o sugere quando diz que «as penúrias, mais do que qualquer outro elemento, acabaram possibilitando a formação de uma sociedade miscigenada, se não nos haveres, pelo menos na cor da pele, na língua, na música, na tradição oral, na religião, na sabedoria popular, no estilo de vida, nos costumes e nas regras de convivência». A liberdade [do cabo-verdiano] de auto fazer-se, terá igualmente permitido o desenvolvimento idiossincrático de um talento inato para a representação e do gosto natural e entranhado pelo teatro que se admitem ser apanágios do ilhéu crioulo.

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